Nossos antepassados previam que os avanços em riqueza, tecnologia, educação e entretenimento produziriam um aumento de contentamento na mesma proporção, mas isso não aconteceu. Em vez disso vivemos um descontentamento sem fim.
De dentro da prisão Paulo escreve: “Sei o que é passar necessidade e sei o que é ter fartura. Aprendi o segredo de viver contente em toda e qualquer situação, seja bem alimentado, seja com fome, tendo muito, ou passando necessidade” (Filipenses 4:12). Existe um segredo! Aquelas coisas que esperamos que nos tragam contentamento, na verdade, não o trazem. O contentamento vem de uma fonte diferente.
Sabemos desvendar esse segredo? Nossa busca geralmente não é por contentamento, e sim por mais. Paulo diz: “De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro” (I Timóteo 6:6). A palavra “piedade” é frequentemente associada à reverência e respeito por Deus; trata-se de uma atitude que adotamos para agradar a Deus. Contentamento, por sua vez, é uma questão de aceitar da mão de Deus o que Ele nos envia porque sabemos que Ele é bom e, portanto, o que Ele envia também é bom.
O poder nocivo do descontentamento
Contentamento não é um sentimento de bem-estar que depende de termos as circunstâncias sob controle, não é a sensação confortável que temos quando todas as nossas necessidades e desejos são satisfeitos, mas sim uma alegria que existe apesar das circunstâncias, com o olhar voltado para o Deus que nunca varia.
O contentamento é difícil de ser alcançado devido ao poder implacável do descontentamento. Quando buscamos nosso contentamento no mundo material, ele nos arrasta mais e mais para o fundo. Aquilo que eu desejo passa a me possuir. Além disso, o contentamento é difícil porque é um estado relativo. Diversos fatores influenciam esse relativismo: a época em que vivemos, a cultura local e o estilo de vida dos familiares e amigos. Infelizmente, a vida na cultura ocidental se tornou essencialmente uma experiência de comparação. Esse relativismo, que torna a grama do vizinho sempre mais verde, pode ser remediado, mas primeiro deve ser confessado.
Antes da invenção do ar condicionado, por exemplo, ninguém se sentia descontente por dirigir num calor sufocante sem ele. As pessoas sofriam por causa do calor, é certo, mas não se sentiam descontentes, porque você não pode estar descontente por não ter algo que não existe. No entanto, quando o progresso o inventa, nosso nível de expectativa aumenta e, com ele, o nível de descontentamento.
As necessidades são fabricadas e escravizam
A indústria da publicidade estimula um estado crônico de descontentamento ao nos convencer continuamente de que devemos aspirar sempre por mais e melhor. Mas a Bíblia diz que devemos ficar satisfeitos se tivermos o que comer e com que vestir-nos (I Timóteo 6:7-8). Os anunciantes usam as suas estratégias de estimulação visual e insinuações sexuais para nos transmitir a mensagem de que precisamos de alguma coisa. Eles fabricam a necessidade. A necessidade deve ser criada e o descontentamento precisa ser estimulado.
O descontentamento pode sufocar a liberdade, deixando-nos escravos dos nossos desejos. Pode envenenar relacionamentos com ciúmes e competição. As vantagens do contentamento são muitas: liberdade, gratidão, descanso, paz - todos os componentes da saúde. Os que são contentes podem se alegrar com a boa sorte do seu próximo sem se sentirem inferiores; não se preocupam com as rugas porque aceitam o que vem; não precisam se preocupar como farão para comprar isso ou aquilo porque não têm o desejo; não são consumidos pensando como vão sair das dívidas porque não têm dívidas; têm tempo para relacionamentos porque os bens e o banco não os possuem.
O contentamento e o dinheiro
O dinheiro traz emoção, mas não saciedade. O dinheiro realmente parece satisfazer as nossas necessidades de curto prazo. Ele nos compra comida, casa, veículos e experiências. Não satisfaz, no entanto, nenhuma das nossas necessidades mais profundas de longo prazo: amor, verdade, relacionamento, redenção. Não é pecado ser rico, mas pode ser perigoso (Hebreus 13:5). Paulo escreveu que as pessoas que querem ficar ricas caem em: tentação; armadilhas; desejos descontrolados e nocivos; ruína e destruição. E alguns, gananciosos por dinheiro: desviaram-se da fé; e atormentaram-se com muitos sofrimentos (I Timóteo 6:9-10).
Precisamos de contentamento para nos relacionar corretamente com o dinheiro e, semelhantemente, com as posses. Duas regras simples: a) Deus em primeiro lugar, bens materiais em segundo; b) Bens materiais devem ser usados, não amados. Jesus contou a parábola do rico insensato. O julgamento dele foi rápido: “‘Insensato!’ [seu tolo!]” (Lucas 12:20). Seu ensino foi: “Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens” (Lucas 12:15). A Igreja precisa se posicionar por uma “teologia do suficiente”! Dizemos: “eu não amo essa coisa; preciso dela”. No entanto, Deus é o que precisamos; coisas são o que usamos!