O conformismo é mais um dos fatores que impedem o nosso crescimento. Trata-se de uma postura apática diante dos desafios da vida. A palavra “conformismo” significa “atitude ou tendência de se aceitar uma situação incômoda ou desfavorável sem questionamento nem luta; resignação, passividade” (Oxford). É aceitar uma condição desconfigurada, oposta ao ideal. Do ponto de vista espiritual, é concordar, se amoldar a um padrão contrário ao da palavra de Deus.
Desgrude da forma
O evangelho é uma proposta de transformação, uma chamada a sair do molde deste mundo, que nos limita e destrói. O texto de Romanos 12:2 é o mais citado quando se fala de transformação. A palavra “amoldar” é a mesma para “conformar”, que significa “dar ou adquirir forma; colocar(-se) de acordo com algo que se tem como modelo; estabelecer harmonia entre duas ou mais coisas consideradas diferentes” (Michaelis).
Existe um antagonismo entre o Reino de Deus e o reino do mundo. Paulo nos exorta a não tomarmos a forma do sistema, porquanto convivemos com as influências dele. A chave para que isso não aconteça está no versículo anterior (Romanos 12:1). É sobre uma entrega sem reservas, uma oferta como sacrifício vivo e santo.
A palavra “santidade” no seu contexto original hebraico é qodesh ou qadash, denota separação, consagração, dedicação, ser consagrado, ser colocado à parte. Outra palavra que faz paralelo com esta é “unção” (1 João 2:20). “Unção” é o efeito de untar com óleo. Para que a massa não grude na forma é necessário untá-la com óleo. No sentido espiritual, a unção com o óleo do Espírito não nos deixa grudar na forma deste mundo!
A vontade de Deus é melhor que o mal menor
Acontece que o conformismo é uma forte tendência quando nos deparamos com os desafios e a necessidade de superação. O sabotador (falso “eu”) quer nos convencer de que não há necessidade de tanto empenho, de que deixar como está causa menos prejuízo. Muitos não confrontam, não se posicionam, fogem de situações desconfortáveis. Por exemplo, é o marido que não assume o governo da sua casa alegando que a esposa é mandona; é a esposa que toma a dianteira e assume o que não lhe compete, com a desculpa de que o marido não se posiciona. A “vontade enfraquecida” diz: “É melhor o mal menor, assim mantemos o casamento”. Conformados ao padrão do mundo, estes não evoluem, não avançam, não amadurecem, não superam limites!
O mesmo se dá em todas as áreas comportamentais. Quando se exige um esforço para uma mudança de comportamento, o argumento é: “Deus me entende e me ama assim mesmo!”. Por exemplo, “eu não gosto de ler”, então simplesmente não leio; “eu não gosto de sair de casa”, então não saio; “eu sou tímido e introvertido”, então não me lanço a novos relacionamentos; “eu sou inclinado ao isolamento”, então me isolo… Tais pessoas se conformam com o que estão (falso “eu”), e não se esforçam para alcançar o que são (verdadeiro “eu”) em Cristo Jesus.
Ser abençoado não significa ser aprovado
Assim como se conformar é gradual, também se transformar é processual, na medida em que nossa mente é renovada com a palavra de Deus. A palavra “transformar” é metamorphosis, no grego, traduzida por “metamorfose”, que significa “mudar de forma”, “transformação de um ser em outro”; no sentido figurado é a mudança que ocorre no caráter, no estado ou na aparência de uma pessoa. É a transmutação física ou moral.
Um bom exemplo é a metamorfose da borboleta. Dos ovos surgem as lagartas, que no processo são cobertas por um casulo, para depois de um tempo se tornar uma linda borboleta, em nada comparável àquela larva asquerosa. Uma pessoa antes de nascer de novo tem sua mente amoldada ao sistema, por isso, como uma lagarta, apenas se arrasta. Para ser transformada, ela precisa se livrar da mentalidade de lagarta!
O casulo está no processo, mas ainda não é o alvo. A tendência ao egoísmo, exclusivismo e isolamento, causados pelo pecado, precisam dar lugar ao altruísmo e ao serviço. É quando a borboleta sai do casulo, alça voo e alcança as alturas, que o propósito da metamorfose se concretiza. A renovação da mente nos faz sair da passividade e da apatia para a autonomia, o protagonismo, o governo!
O conformista é aquele que vive na zona intermediária, nem lá nem cá! Israel ficou quarenta anos no deserto. Essa zona intermediária (deserto) pode ser uma armadilha, porque Deus está nela. A presença dEle era marcante através da nuvem durante o dia e da coluna de fogo a noite; o maná caía diariamente, a água brotava das rochas, enfim, a bênção estava presente, mas não estavam no propósito, que era a Terra Prometida!
A mesma palavra “transformação” está em 2 coríntios 3:18. Face descoberta fala de um contato direto com Deus, sem intermediários. É segundo à Sua imagem que estamos sendo transformados. Essa metamorfose trará um resultado maravilhoso: vamos experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus! (Romanos 12:2). A palavra “experimentar”, no original, tem o sentido de “reconhecer como genuíno depois de exame”. Quando fazemos o que é certo, a vontade de Deus entra em operação!